segunda-feira, 22 de junho de 2009


Quanto mais o tempo passa, passo eu também a acreditar que o amor não sobrevive só de certezas, só de escolhas, opções, prioridades... No amor, há que haver romance, também conquista e, especialmente, a atenção e o zelo.Se me aborreço, não funciono com o silêncio... O tempo que a palavra demora pra chegar até mim é ,um tempo longo, torturante, que me permite sofrer, que me permite doer.Eu gosto das verdades, mas não dessas de se dizer "na cara", e sim das verdades amorosas, carinhosas, cuidadosas... Das verdades do coração, daquelas que não se põem a disputar, que não cultivam tanto orgulho.O silêncio é um torturador sagaz, me permite afundar-me nos fantasmas que escondo "bem no fundo" e estes veem quase à superficíe para tentar respirar de novo.Eu quero as certezas sim, mas as quero com sentimentos!Eu entendo que não adianta dar murros em pontas de faca ou culpar a vida e as circunstâncias. Se há algo do qual efetivamente não poderemos nunca ter o controle, este algo será sempre a atitude das outras pessoas.Perdemos pessoas, amigos, amores, perdemos sonhos, perdemos dinheiro, perdemos as expectativas que foram geradas em torno das vitórias que não serão vividas, não serão mais compartilhadas, perdemos os telefonemas que não serão mais dados, os e-mails que não serão mais recebidos, os encontros pra um almoço, um café, perdem sentido certos lugares, certas lembranças, perdemos até a credibilidade por perceber que tudo pode mudar tão rápido e que o real motivo da mudança pode permanecer velado, perdemos nossas possibilidades de questionar ou de entender... perdemos!A perda é um processo natural nesta vida, mas junto com elas também ganhamos, ganhamos os afetos daqueles que permanecem junto a nós, ganhamos aprendizados, chances de amadurecimento, possibilidades de cura, de superação, ganhamos novos desafios, outros caminhos a serem traçado, ganhamos novo ânimo, novos sonhos, ganhamos mais atenção às coisas e as pessoas e mais cautela ao lidar com elas, ganhamos novas perspectivas, ganhamos força pra poder recomeçar, ganhamos fé pra poder continuar.Eu não diria que "a melhor vingança é viver bem", mas que o melhor que podemos tentar fazer é semear o bem, viver o bem e estar perto de pessoas que nos tragam um pouquinho disso todos os dias!

quarta-feira, 10 de junho de 2009

A DOR QUE DOÍ MAIS


Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas. Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.
[Martha Medeiros]